sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Sobre a maconha

-Amor, fuma comigo?
-Ah, gatinha… cê sabe que eu não fumo.
-Só um peguinha, vai? Todos seus amigos falam que cê era um puta maconheiro. Quero ver…
-Isso faz anos. Eu cresci.
-Deixa de ser chato. Tô com um fumo massa que a Ritinha descolou. Não tem saudade de ser maconheiro, não?
-De ser maconheiro, não. Mas realmente, o sabor, o cheiro…isso eu sinto falta.
-Então, gato. Quero ver como ficamos chapados juntos. É um saco fumar sozinha toda vez.
-Tá, mas só se você topar assistir “Back to the Future” comigo. A trilogia toda.
-Combinado! Fumamos e vemos!
Alugam os três filmes e voltam a casa dele. Ela, ansiosa, acende o baseado assim que entraram no quarto.
-Ei, gatinha, calma! Que cê tá fazendo?
-Ué, fumando.
-Porra, calma. Tem todo um lance… uma preparação. Não é assim, chega e acende. Porra, hoje em dia o banza vem bolado? Na minha época tinha o ritual de dichavar, cochar e o caralho. Não é mais assim?
-Para de ser besta. É que esse eu fumei metade de tarde e guardei o resto. Pronto, apaguei. Que ritual você quer?
-Não sei. Lembro que colocava uma toalha na porta…
-Você não mora mais com sua mãe, lembra?
-É, e mamãe tem fumado a valer nesses lance de pós-menopausa. Trocou o lexotan pela maconha e parece que tá super funcionando.
-Tá vendo, só você é careta. Porque parou de fumar? Cê nunca me explicou direito. Acho que você só gosta de ser do contra.
-É, realmente adoro surpreender as pessoas dizendo que não fumo. Mas sei lá, acho maconheiros tão chatos.
-Você acha todo mundo chato.
-Mas maconheiros em especial.
-Todos os seus amigos fumam. Até sua mãe!
-Ela fuma medicinalmente! Bom, acho que pode acender. Ahh, deixa eu achar um incenso!
Ela ri. Está verdadeiramente empolgada com a ideia de fumar com ele após três anos de namoro. Ele tá apreensivo. Não sabe como vai bater, mas se sente seguro com ela.
-Não tem incenso… gatinha, se bater mal eu vou dormir até passar.
-Relaxa, amor.
-Sério, não sei como vou ficar… e depois dos lances do pânico e tal.
-Cara, você não tem mais nada. Fica tranquilo, tô aqui com você.
Era só isso que queria ouvir. Ela dá uns tragos e passa.
Ele traga e enquanto segura a fumaça ri.
-Que foi? Já tá doidão?
-Não cara, esse gosto… tava com saudade, mesmo. Tem um lance nostálgico de pré-adolescência, sabe? Me lembra infância.
-Maconha te lembra infância? Que infância que cê teve, hein!?
Fumam o baseado todo e se divertem. Ele sente bater e viaja olhando pra ela. Ela quer saber dele, mas não pergunta pra não pressionar. Sabe o quão chato é um alguém perguntando “já bateu?”.
-Cara, não consigo lembrar porque fiquei todos esses anos sem fumar!
Os dois riem e conversam como crianças. Brincam. E meio brincando ficam nus. Se beijam. Ele passa um bom tempo pirando numa pintinha que ela tem no ombro, quase no pescoço. Ela se arrepia sempre que ele beija e respira essa pinta. Fazem amor olhando nos olhos. Amor, como as mulheres costumam sonhar. Ele se lembra, quando mais jovem nunca gostou de fazer sexo chapado. Se desconcentrava, pensava em detalhes que normalmente não importam: um cheiro, um detalhe do brinco, o lençol da cama. Dessa vez, não. O único momento em que não estava exatamente presente foi quando pensou sobre isso. Pra ela tudo flui naturalmente, estava acostumada a transar com ele chapada – transavam bastante e há bastante tempo. Ele demora um pouquinho mais que o normal para gozar. Ela vai antes dele. Não param de se beijar e nem tiram os olhos um do outro durante a transa toda.
Estendidos na cama dividem um cigarro. A mistura perfeita entre a intimidade que só o tempo constrói com uma curiosidade dos recém-apaixonados dá a eles uma cumplicidade única. Sensação de completude. Coisa rara.
Desvendavam seus corpos entre os lençóis. Sentem cada toque como novidade, como cegos perdendo a virgindade, talvez.
-Vamos colocar um som?
-E o filme?
-Aé, tinha até esquecido.
-Ainda tem a pontinha, quer?
-Opa!
-Olha que maconheirinho!
-Há, passa a ganja ae gatinha!
-Amor, ninguém mais fala assim… “ganja”….
Fumam a baguinha. Colocam o filme. Ele explica que começou a andar de skate por causa do Marty Mcfly. Vibra com as cenas que pra ele são absolutamente clássicos do cinema. Se empolga e discursa que toda a base do cinema hollywoodiano tá lá, “Toda a fantasia do cinema”! Ela vibra com genuíno entusiasmo o entusiasmo dele. Mesmo sem compartilhar o sentimento com o filme os dois assistem felizes.
Ela dorme antes do pai de Marty Mcfly socar o Biff. Ele abre mão dos filmes para observa-la. Tenta escrever algo sobre a paz absoluta e felicidade que sente. Desiste ao notar que a mente vai mais rápido que as palavras e dorme abraçado a ela.
Isso faz tempo. A sensação desse dia nunca mais voltou e nem ela, que o deixou meses depois.
Mas sempre terão essa noite pra lembrar. Se é que isso vale de alguma coisa.
Ela ainda fuma um. Ele tentou mais umas vezes, não bateu legal e logo lembrou porque tinha parado.

Original de http://victorsas.wordpress.com/2013/02/08/sobre-maconha/

sábado, 2 de fevereiro de 2013

Oc ta fazendo isso errado

Episódio de hoje: Penteando o cabelo.

Eu: Vamos, estou pronta.
Letícia Gonçalves: Nein, vai pentear o cabelo não?
Eu: Já penteei, ó!
Letícia: Tem certeza? O.o
Eu: sim. -.-